sexta-feira, 15 de março de 2013

A, as lacunas

Seguidas vezes passei pelos dias, como passava pelas estradas. Comprimeitei as pessoas, como sentia os eventos e o clima. Mal sabia eu que muitos daqueles olhos, daquelas bocas ficariam em mim para sempre. Como curvas dobradas, sem volta. Como presenças que se alongariam por além dos anos... No mais... era assim que eu me sentia.

Em meio a subvertivos sentimentos, alguns sorrisos sempre me chamavam mais atenção. As faces serenas nos almoços, nos jantares. Os lanches no bosque. E as faces serenas. Únicas. Únicas acima até mesmo das flores. Mais estonteantes que a paissagem do conjunto de árvores. Em meio a um cenário trivial, que parecia natural de outra latitude.

Como a vida é feita de imagens. As crianças. Os parques. A realidade. Os animais... Tudo em volta é igual. Mas a sua sequência... a sequência perfeita das imagens trazem a nós sentimento. Nossa vida são imagens, o que nós sentimos vem da beleza, da particularidade das suas sequências. E as lacunas? Não deve existir nada no mundo tão lindo quanto as lacunas; tão soltas, tão livres. Tão paciêntes pelo nosso olhar. Como o horizonte. As lacunas da nossa vida são como o horizonte dos dias. Vazios a espera do nosso olhar, do que nós temos a sensibilidade de enxergar. Só assim eles passam a existir com um sentido. O sentido é o que nós sentimos.

O que nós sentimos, que geralmente, não faz sentido... ou pouco temos a energia de desvendar. Nós somos como teias para nós mesmos. Somos como cadeias para os outros.

Para os queridos amigos. Para quem nunca conhecemos. Para quem nunca estará aqui, mas está em nós... Da felicidade de dançar sexy em um funeral. Da tristeza de chorar na formatura de uma amizade antiga. Na indecisão de pular ou ficar sentado na pelo sofá. Há lacunas gigantes entre as coisas? Há diferença entre amigo e irmão? Não. As lacunas estão, apenas, em nós.

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